quarta-feira, 24 de abril de 2013

Eu sou o amor e o silêncio



Quatro dias para mergulhar em si mesma.
Quatro dias de silêncio.
Não podia falar.
Não podia se comunicar.

Era apenas ela com ela mesma.
Era apenas ela com seus pensamentos.
Era apenas ela com seus medos e angústias.
Era apenas ela com suas tristezas.
Era apenas ela com todo aquele lixo que ficava guardado.
Era apenas ela e mais de 200 pessoas a sua volta.

Os primeiros dois dias foram de muita dor.
Dor física. A cabeça latejava. As costas doíam.
Dor emocional. Seu coração estava despedaçado. Ela estava mais uma vez no limite.
E foi então que percebeu que ficar sem se comunicar era o menor dos seus problemas.

Vontade de ir embora. Sair correndo.
Vontade de ficar. Ver o que estava sendo reservado para o final.
Seu sono era agitado e com pesadelos.
Ora sentia-se feia, desconectada.
Ora sentia-se bem e a natureza ao redor ajudava a melhorar seu estado mental.
Enfim, era como se estivesse em uma montanha russa.

“Esse é um lindo processo de purificação”, era tudo que ouvia da instrutora.
E foi exatamente isso que aconteceu.
No terceiro dia ela acordou e ficou esperando a cabeça latejar. Mas a dor não vou voltou.
No terceiro dia ela acordou e ficou esperando a melancolia voltar. Mas isso não aconteceu.
Onde antes era apenas inverno se fez primavera e verão.
Como uma flor de lótus, ela desabrochou de onde só existia tristeza e apego.

Gargalhada. Paz. Gratidão. Amor. Pertencimento. Beleza.
Ela conseguia sentir tudo isso novamente.
E aquelas mais de 200 pessoas, que antes eram invisíveis para ela, transformaram-se em uma grande onda humana que entoava o mantra OM.
Enfim, ela estava em contato com Brahman. O Absoluto. O ser.

Quando o fim do silêncio foi decretado, ela não queria ainda falar.
Apesar da tristeza de sido aplacada, era como se tivesse feito uma cirurgia.
Internamente, seu corpo estava completamente revirado, mexido.

Realmente fez o que devia ter feito.
Realmente estava no lugar certo, com as pessoas certas.
Realmente aquele foi o seu momento.

E teve a absoluta certeza de que havia sido abençoada pelo Divino, mestres, guru, divindades, ancestrais e por sua querida avó, que já falecida, aparecia sempre nos momentos mais difíceis sob a forma de lindas borboletas brancas.

Que a partir de agora a sua ação tenha o silêncio.
Que a partir de agora a sua fala seja silenciosa.

Um comentário:

  1. Presenciei a experiência e posso atestar o quanto foi difícil. Mas no fim, sobrevivemos.

    JGD

    P.S. E quando o silêncio chegou ao seu fim, ele encontrou a churrascaria e a felicidade voltou... ;-)

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